quarta-feira, junho 28, 2006

Formando Diretrizes

Há praticamente uma semana eu falei que havia retornado de uma crise existencial com o blog e que talvez recuperasse a inspiração. Ela não voltou. Deve ter pedido as contas por carta e eu perdi em algum lugar por aí. O engraçado é que isso me fez voltar ao meu ponto de partida: O Fandom. Isso mesmo, eu inicei a jornada com Harry Potter e agora, quando nenhum outro texto me satisfez, eu voltei ao meu original. Por isso, resolvi chutar tudo e declarar: Por enquanto, vou me prender às Fanfics. Pelo menos assim eu posso voltar a olhar com orgulho pra algum texto meu. Aliás, o que texto que publico a seguir é um dos que mais gostei nos últimos tempos. Não sei o que vocês vão achar, mas acreditem, foi muito legal escrevê-lo. Apesar de que ele começou do nada, sem idéia alguma. As palavras apenas fluíram e em determinado momento eu tive que parar e dizer: Está bem, eu já dei um início bom à ele, agora eu preciso estabelecer qual vai ser meu enredo. E a partir daí o texto fluiu. Espero que gostem...
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Reflexões de Guerra

As lágrimas caíram e secaram no livro aberto sobre a mesa. As mãos tremiam espalmadas na madeira. Os lábios encrespados seguravam o grito afoito por liberdade. O medo já cedia o lugar à dor e desesperança. Não havia mais o que fazer por aquela mãe desolada. Haviam se passado alguns meses desde o começo do conflito e muitas batalhas resultaram em baixas que, até então, não continham o sobrenome Weasley. Molly, sempre a matriarca preocupada, suspirara várias vezes de alívio sempre que essas notícias chegavam. Arthur, o patriarca ocupado, vinha todos os dias com o semblante triste lhe contar sobre algum companheiro ferido ou morto e ela sempre esperava pelo pior. Dessa vez não foi Arthur quem veio e Molly temeu pela vida do marido.

Felizmente, o papai Weasley não estava em perigo, mas precisara ficar no local do crime porque um de seus filhos era a vítima. O fantasma de seus irmãos assolou a visão da Sra. Weasley assim que Remo atravessou a lareira. Postados diante dela, ao lado do amigo, eles também transmitiram a notícia. Percival Weasley caiu em campo. E por alguém da Ordem, soube Molly. Por um momento ela ignorara isso, mas algo na expressão de Remo a fez querer saber quem. Ele tentou contornar a situação, porém, estar de frente para aquela mulher naquele momento intimidaria até mesmo o Lorde das Trevas. A notícia foi bombástica. Ronald, o filho mais novo deles, fora quem atirou o feitiço que colocou Percy em estado grave. Molly não agüentou. Caiu de joelhos e o gritou se soltou, livre para percorrer a casa toda. Em instantes Gina e a nora Hermione estavam na cozinha para acudir a pobre mulher.

As lágrimas não cessaram tão cedo. Foram preciso duas poções calmantes diferentes para que Molly deixasse que Remo continuasse contando. De acordo com o que ele trazia de importante, Percy havia se tornado um espião dentro do Ministério da Magia há pelo menos um ano e, desde então, planejava ascender dentro do próprio para dominar o governo bruxo inglês. No entanto, naquela noite em que houve um ataque ao prédio, ele tivera de tomar um partido e, na frente de seus quatro irmãos, Rony, Fred, Jorge e Carlinhos, e de seu pai, ele atirou pelas costas em Quim Shacklebolt. O auror estava no St. Mungus em estado grave assim como ele. Tomado pela ira, Rony decidiu dar um basta naquilo e partiu para um duelo ferrenho com o irmão mais velho. Não só subjugou Percy como também o fez pagar por todas as injustiças cometidas à família. Percy, então, foi capturado e enviado ao St. Mungus para ser tratado, enquanto Rony se entregou aos aurores para receber uma repreensão. Aquilo foi o bastante para a Sra. Weasley que desmaiou em seguida.

Remo pediu desculpas e saiu, pois precisava reportar também a Harry e Severo, que neste momento treinavam. Hermione ajudou Gina a levar Molly para a cama e se postaram lado a lado observando a bondosa mãe dormir. Decidiram que era melhor que ela tivesse um sono pesado e tenebroso do que tentar faze-la acordar e dormir em paz. Nunca se sabe como alguém pode acordar depois de tão terríveis notícias.

Gina olhou para o lado e notou que a cunhada chorava em silêncio. Sabia que a notícia a afetara quase tanto quanto a Molly, só que até o momento não havia percebido o seu sofrimento. Rony era seu esposo há apenas um mês e talvez fosse retido agora pelo quase assassinato do irmão. Torceu os mãos quase chorando também. Descobrira nos últimos meses os nervos de aço que tinha. Quando a guerra começou, havia tentado fazer o papel de boa companheira e ficou em casa esperando por notícias de Harry. Quando ele resolveu sumir por dois meses inteiros, decidiu que não era bem essa sua idéia e partiu atrás dele. O encontrou a cata de Severo em Godric´s Hollow. Juntos descobriram e destruíram outro Horcrux, a taça de Hufflepuff. Faltavam poucos naquele momento. Infelizmente, a jogada alertou tanto o Ministério quanto o próprio Lorde das empreitadas de Harry e a caçada ficou mais difícil. Por fim, quando encontraram Snape escondido com Draco nos terrenos da sua antiga escola, e descobriram toda a verdade por trás dos planos de Alvo, deixou que Harry ficasse ao lado dos dois para treinar. O vira casualmente desde então. Por outro lado, sabia que ele estava seguro. Hermione não. Ela via o marido todos os dias e todos os dias sofria ao vê-lo partir, sem saber se ele voltaria para casa como um encarnado ou como um fantasma. Pensou nisso por uns instantes resolveu abraçar Hermione, o que acabou assustando a garota.

Hermione quase deu um pulo com a atitude da amiga e só compreendeu quando encontrou seus olhos e viu neles o mesmo que devia haver nos seus. Pena. Porque ela sentia pena da Sra. Weasley, que poderia perder dois filhos, assim como Gina sentia pena dela por ter seu esposo metido em mais uma confusão. Rony sempre fazia isso, desde o princípio. Era o garoto-problema, mais do que o Harry. Queimara-se com Norberto e sucumbira no xadrez bruxo no primeiro ano, passou por poucas e boas com a varinha quebrada no segundo, quase morreu caçando Perebas, na verdade Pedro, no terceiro e assim seguindo. O que a deixava preocupada era que a tendência dele em se meter nessas confusões só aumentou quando se tornou um peão importante da Ordem. Ele estava em campo praticamente o tempo todo e a qualquer momento poderia perecer em campo. Ela chorava todas as noites em silêncio da mesma forma como chorava agora e sabia bem disso. Não havia o que fazer. Era a guerra e todos deveriam fazer algo se esperassem por um novo amanhã.

Respondeu ao abraço e se soltou, caminhando para a janela que mostrava a paisagem noturna daquele ponto perdido da Inglaterra. Esperava ver a qualquer momento o marido ou algum amigo chegando por vassouras, seu método mais pitoresco de voltar de uma batalha, trazendo as boas novas do fim de tudo. Infelizmente, faltava muito ainda para isso. Harry não estava pronto e dois Horcrux estavam escondidos. Muitos comensais estavam soltos e o Lorde parecia produzir muitos mais por semana. A guerra só aumentava e mais baixas aconteceriam ao longo do percurso. Por enquanto só poderia ficar ali, pesquisando e ampliando sua pesquisa além de, em segredo, gestar a vida da criança que a mantinha fora de duelos por aquele tempo. Mas, a resposta já estava dada. Se a guerra durasse mais dez meses, Hermione voltaria à ativa, mais forte e mais vingativa do que antes. A promessa foi feita diante do altar onde se casara e a manteria. Custe o que custasse.

Molly acordou um pouco mais tarde e as duas já estavam tomando um café. Por instantes, refletiu em tudo que acontecera. A dor continuava, só o desespero havia passado. Tudo acabaria bem. Tinha de acreditar nisso. Era sua última esperança. Se algum deles morresse, Molly seria a próxima baixa. Observou o teto e passou a pensar. Na cozinha, as duas amigas bebiam sem ânimo, também no mesmo estado. Três fortes mulheres, tão afetadas pelas más notícias, tão próximas de cair. No instante, porém, que alguma boa leva surgisse, se ergueriam e voltariam a sorrir, com os olhos em chamas. Era só esperar, sabiam disso. Sob o céu estrelado de um outono turbulento elas esperavam por alguma boa nova.

A imagem postada não me pertence, muito menos é de alguém que eu realmente conheça. Se a pessoa que a fez quiser, eu a retiro. Se não, agradeço muito o empréstimo pois achei demais. ;)

quarta-feira, junho 21, 2006

Das Cinzas...

Há séculos não venho aqui. Neste meio tempo pude refletir e acredito que a demora de atualização se deve à um medo de postar que acabei criando, sei lá porquê. Mas aqui estou, novinho em folha e me preparando pra escrever com tudo. Apesar disso, o texto que vou colocar aqui hoje escrevi durante minha falta de inspiração e acho que não ficou dos melhores MESMO. No entanto, ele possui uma parte onde o texto se divide em duas partes e é nela que vou centrar o desafio que lanço: Todos aqueles que visitam o blog, se por acaso se sentirem tentados, podem pegar o texto e escrever o que acham que faltar, eliminando o final esdrúxulo. É uma pena que não sou eu mesmo quem vai conseguir consertar o erro... É uma pena...
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Sem Título

A chuva caía em gotas constantes e suaves sobre a pequena casa de encosta. Ali, no bairro mais tranqüilo e mais isolado da cidade, moravam apenas famílias pequenas que, ou migravam para a praia, ou viviam fora de casa nessa época do ano. Infelizmente, também é nesse pequeno bairro que se residem a maioria dos solitários. Sejam eles escritores, músicos, poetas, congressistas, gênios ou tolos, eles vivem sozinhos dentro de suas grandes casas. A casa citada anteriormente é onde vive o talvez, mais excêntrico deles.

Seu nome o tempo já fez questão de apagar, assim como sua vida, que já não pode mais ser chamada assim. Sua existência se resume à contemplação da vida alheia pela grande janela que se encontra na sua sala de estar. Há muito não tem contato humano. Preferiu se tornar um eremita naquela luxuosa casa a encarar as pessoas novamente. Por medo ou querendo proteger, seus ideais também já não são mais lembrados. Sua única companhia é, quem sabe, o diário que guarda a sete chaves em sua escrivaninha.

Nesse caderno de couro, já surrado pelo tempo, estão gravadas suas memórias, anteriores à sua exclusão do mundo e as posteriores, onde documenta seus dias de visualização e as descobertas que faz. Para ele esse é seu maior tesouro.

Sua aparência pode refletir seu estado lastimável. Pela falta de socialização, não cuidou mais de sua aparência. A barba e os cabelos por cortar não estão exatamente deploráveis, mas já alcançaram um estado crítico. Os cabelos, aliás, formam uma grossa juba castanha segura apenas por um rabo de cavalo mal feito. As roupas também não estão em bom estado. Gastas, quase um uniforme que ele usa dia sim e dia não, intercalando entre si. Por hoje escolheu o velho casaco azul-marinho que usava quando professor, a camisa azul-clara, as calças pretas e os sapatos confortáveis de andar em casa, quase sem sola.

O abandono o tornara um pouco mudo e um pouco surdo. Havia muito tempo não usava palavras. A despensa era abastecida ás vezes por um garoto que entregava os jornais e que gostava dele, apesar do pouquíssimo contato.

Se continuasse dessa forma em breve abandonaria de todo o mundo. Deixaria o corpo para trás e partiria de vez para o lado que parecia cobiçar todos os dias ao acordar em silêncio. Seu abandono era tal que possuía um único telefone e um computador sem internet, apesar de seu poder aquisitivo. A aposentadoria cobria tudo.

Hoje, no entanto algo estaria para alterar todo o curso da sua história. Por ser um bairro nobre, igualmente era um bairro cobiçado pela classe mais famigerada de todas: Os ladinos. Assim sendo, esta noite, quando o já envelhecido senhor se dirigia para sua sala de estar para se atualizar sobre o mundo, em seu quarto no segundo andar uma pequenina criatura adentrava o recinto com más intenções. Não por maldade, não por cobiça, e sim por necessidade. Seu nome é Robin e sua vida é um mistério quase tão grande quanto o do habitante da casa. Vestindo poucas roupas, apenas um casaco grande, uma camiseta que com certeza não era do seu tamanho e uma calça que ganhara de alguém na rua, a garota de aproximadamente quinze anos via no roubo sua sobrevivência. E por isso, nessa noite específica, decidira invadir aquela casa que parecia tão vazia. Para seu azar a casa não estava completamente vazia.

Os movimentos de ambos foram quase sincronizados. Enquanto o quase-morto senhor vagou por entre os cômodos se ajeitando, a jovem mulher foi conhecendo o andar de cima. Por coincidência tiveram a idéia de usar a mesma escada. A cara que os dois fizeram ao verem um ao outro, em andares diferentes, é indescritível. Apesar de tudo, a reação não foi rápida. A princípio o susto e em seguida o medo. Ele, já cansado pelo enclausuramento, ela, esguia por causa da vida nas ruas. Em segundos ela já tentava pular pela janela. Porém, um pedaço de sua roupa, culpa do tamanho, enganchou em um pedaço já madeira e o que veio a seguir não foi à esperada fuga, mas sim uma lenta e dolorosa queda.

Ele, assustado por toda a situação, chegou em seguida e encontrou a menina caída em um de seus arbustos. Para sorte dela ele desleixara com tudo, inclusive os jardins e a grama já crescia alta. Ele correu para lá, mancando com ar pernas semi-atrofiadas pela falta de exercício, amaldiçoando pela primeira vez em anos a não atividade física.

...

Essa é uma história conhecida, a falar a verdade. É óbvio o que ocorreu. O não-convívio com seres vivos tornou-o uma pessoa amargurada, no entanto, carente. Tratar da garotinha despertou nele os sentimentos escondidos e, mesmo com a circunstância, sentiu pena dela e quis que ela ficasse bem logo. Por outro lado, a rapariga se sentiu protegida. No primeiro instante temeu a reação dele. Nos seguintes, passou a acha-lo interessante. Quando viram, estavam tratando um ao outro como velhos amigos.

Ele redescobriu sua vida, abandonando o auto-aprisionamento. Ela passou a ter um lugar para ficar. Tornaram-se mestre e aprendiz e descobriram os segredos mais profundos um do outro. Tornaram-se amantes terrenos, é claro, mas muito mais no sentido místico. Livre das correntes que ele próprio havia imposto, o grande senhor Heracles, em sua mais recente encarnação, finalmente se viu livre também das maldições de sua ancestral madrasta Hera.

Pode novamente ter uma amante mortal e protege-la. Não mais seria um titã adormecido e sim um herói reencarnado. Seus vários retornos, antes tão iguais, haviam apenas o feito repetir a amarga experiência de ter amado e perder sua amada para si mesmo. No entanto, um contato inesperado de uma outra alma ancestral o fez despertar sentimentos cobertos pelo tempo desde os primórdios da humanidade.

Em algum lugar, um certo Zeus sorriu, e sacudindo um velho casaco de couro, deu alguns passos para dentro de um beco escuro, onde sumiu. Ele havia feito um belo trabalho ao indicar aquela casa para uma pequena ladra em busca de coisas para roubar.
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Ah sim, mais um desafio àqueles que pensam que me conhecem. Visitem o link abaixo e respondam o Quiz. Vejam se conhecem o bastante de mim. Um doce à pessoa que conseguir acertar as três últimas questões. ;)
Quiz do Ton

PS: Fiz um quiz sobre personagens de Naruto e olha o que deu... =P

quinta-feira, junho 08, 2006

Aleluia!

Finalmente posso voltar a postar aqui. É que nos dois últimos dias esse blogger andava meio revoltado. Sabe como é né? Em manutenção... Aiaiai... Aí eu não conseguia postar meus textos "brilhantes" aqui. Bem, esse que vou postar veio sei lá daonde e num momento em que a inspiração veio só fazer uma visitinha. Daí, se vocês não gostarem, eu compreendo. Ao menos, leiam, já fico muito grato.
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Comentários do Dia: Por incrível que pareça, meu TI acabou. E foi demais! Muito bom mesmo, bem eleborado e bem apresentado. Me diverti um monte por causa dele. Foi bom mesmo. O dia 12 se aproxima e é bom eu me preparar. Meu primeiro dia 12 de Junho acompanhado. Estou maravilhado. 18 anos que valeram a pena. Sábado é níver do meu irmão adotivo Gui-Nii-San. Por isso, devo demorar a aparecer de novo. Isto é, se eu não postar nada amanhã. De qualquer forma, abraços à todos.
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A Velha Caixa

Em uma manhã nublada de outono um velho de feições pouco amigáveis atravessou a avenida diante da praça e se postou ali, de frente para o monumento de vidro que era o Tempest Place e armou sua pequena banquinha. Sobre uma já surrada toalha de mesa azul celeste ele pôs uma pequena caixa de madeira fechada. Ao lado da caixa ele colocou uma plaquinha de VENDE-SE. E só. A sua pequena vendinha se resumia àquela caixa de madeira antiga.

Os pedestres passavam observando aquele senhor e sua caixa. Ele ficou muito tempo ali de pé, olhando para o céu com aquela caixa de madeira à sua frente. Os curiosos já se perguntavam o que haveria ali. Um ou outro perguntou e quando o velho respondia que eles teriam que olhar-los, eles saíam meio assustados. Por caridade um dos camelôs que compartilhavam daquela praça lhe ofereceu um banco que o velho, apesar da carranca, gentilmente aceitou.

O silêncio em volta daquela caixa era terrível. Os passantes que até então conversavam, ao passar pela caixa, pareciam monges prestando voto de silêncio. Ninguém ousava dizer nada perto do velho e sua caixa de madeira.

No entanto, após vários minutos de quietude, um jovem engravatado, digno de um tribunal ou de alguma partição pública, atravessou a rua, faminto por aquela caixa. Em seu âmago algo lhe atraía nela. Sentiu desejo, sem saber de onde. Ao vê-lo, pela primeira vez no dia, o velho sorriu. Um sorriso nada amigável para falar a verdade, algo de fera. Uma fera diante de uma presa muito saborosa.

- Ei, senhor! Quanto custa essa maravilha? – perguntou o jovem afoito.

O velho encarou-o e disse um preço que amedrontaria qualquer outro, mas não aquele sedento jovem. Ele estava apaixonado por aquela caixa e a queria de qualquer forma. Emitiu um cheque sem nome ao velho e pediu para olhar a caixa. O velho deu caminho e ele pode abri-la. Porém, ao olhar para dentro, o jovem tomou um susto tão grande que o fez sair correndo. O velho perseguiu-o com os olhos e quando ele virou a esquina rasgou o cheque, voltando à cara dura de antes.

Durou muito tempo até que, surgindo do nada, uma moça, de aparência humilde e imensos óculos fundo-de-garrafa chegasse próxima ao velho. Ela olhava com cobiça aquela pequena caixa de madeira. Tocou cada um dos detalhes entalhados a muito por algum exímio artesão e posou as mãos sobre a tampa de maneira muito delicada.

- Quanto custa? – perguntou rápida e sagaz, de tal forma que parecia ameaçar o velho se este não se revela o preço.

O velho voltou a sorrir e disse um preço que muito diferia do anterior. Parecia estar julgando seus clientes. A moça olhou para a caixa de forma triste e parecia se lamentar.

- É muito, não teria alguma outra forma?

Agora o velho pareceu perder o sorriso de uma forma muito mais brusca. Não só voltou à seriedade, como também parecia começar a ficar nervoso. Tirou a caixa de debaixo das mãos dela e a trouxe para si. A moça quase urrou e pediu que ele lhe desse a caixa. O velho não permitiu e disse que fosse embora. A moça insistiu, pedindo para toca-la uma última vez então que ela iria. O velho ponderou e enfim deixou que fizesse a despedida. Ao ter em mãos a caixa à moça voltou aos olhos cobiçosos e a abriu, apenas para sair correndo dali, gritando. O velho, que já havia previsto o resultado, pegou a caixa e a tampou, colocando de volta a mesa.

Muito mais tempo correu e estava quase anoitecendo quando uma estranha figura surgiu. Em trajes frios demais para o tempo morno daquele dia ele subia a ladeira anterior à avenida de forma cabisbaixa, olhando para o asfalto. Não chegou nem a notar o velho e sua caixa parados ali. Algo como um relâmpago cruzou os olhos do velho ao notar o rapaz e pôs-se a admira-lo. Quando este passava a sua frente o velho interceptou. Fez uma oferta de que ele comprasse a caixa e ofereceu um preço muito mais modesto que os anteriores. Os olhos do rapaz caíram sobre a caixa e por um instante, muito curto, faiscaram. Infelizmente, ele não estava a fim de comprar nada, só queria ir para casa e deitar e dormir para talvez não mais acordar. Seu dia estava péssimo.

O velho compreendeu e ainda assim reforçou, baixando ainda mais o preço. O garoto travou uma batalha interna. Algo naquela caixa tentava lhe despertar o interesse. Algo muito forte e que estava quase ganhando. Por fim voltou a dizer que não. O velho pareceu magoado e suspirou. Pediu então que o rapaz ao menos tocasse a caixa e a abrisse. E por causa do olhar do velho, apenas por isso, ele aceitou. Tomou a caixa em mãos e a abriu. O efeito foi único.

Diante dele, dentro daquele pequeno artefato de madeira, um universo inteiro residia, sonolento e muito calmo. Pode ver lá no fundo, bem pequena, uma Terra azul e verde. Respirou fortemente e tornou a olhar o velho. Este sorria, finalmente um sorriso sincero e solidário.

- É possível isto? – perguntou o rapaz abismado.

O velho respondeu que sim, já que ele estava ali vendo. O garoto ponderou um pouco e disse que aceitava o preço. Surpreendentemente, o velho não quis. O garoto tentou aumentar o preço novamente e o velho continuou a recusar. Quando perguntou, o garoto recebeu uma resposta que o surpreendeu.

- Todos que hoje tentaram comprar essa caixa estavam dispostos, ou quase, a pagar imensas fortunas por um artefato que cobiçavam acima de sua vida. No entanto, nenhum deles se dispôs a visualiza-lo como ele realmente é por mais do que alguns segundos. Eles acham belo seu invólucro e a aura de poder que ele emana, no entanto, seu núcleo, o que realmente importa nele, que acarreta em responsabilidades, eles temem e fogem. Leve, meu garoto, leve com você e faça um bom uso. Creio que irá entender com...

O velho não chegou a terminar sua frase. O garoto chorava. Ele havia entendido. O velho entendeu sorriu meigamente e pediu desculpas, mas precisava ir. O rapaz pegou as caixas e deu um abraço no velho. Secou as lágrimas a tempo de ver esse cruzar a esquina e sumir. Diante de si estava o artefato mais interessante de toda a sua vida. Guardou a caixa com cuidado, devolveu o banquinho ao camelô e deu uma generosa gorjeta a ele pelo empréstimo. Por fim, pegou tudo que havia pertencido ao velho e que ele deixara ali e pôs-se a andar, de forma descontraída e alegre. Tinha muito que fazer, mas havia... Ora bolas, por que não? Riu feliz.

Pensou no velho então, na sua aparência humilde que escondia sua real função. Debaixo daquela barba desgrenhada, dos cabelos compridos amarrados em um apertado rabo de cavalo, das roupas surradas que pareciam pertencer a algum hippie, de todo aquele visual que espantava os outros, havia um dos seres mais poderosos de todo o mundo. O velho e bom Tempo...

Engraçado como os imortais parecem escolher os mais excêntricos métodos de passar seu poder adiante...

sábado, junho 03, 2006

Meu pedido... Meu pedido...

Bem, eu já tentei postar uma vez e o blogspot não colaborou... Ou talvez tenha sido o IE... Que seja... Agora estou no Mozilla e não vou conseguir repetir tudo que escrevi na outra vez. Então vou ser bem direto e rápido. Ontem eu queria postar, só que não tinha tempo nem inspiração. Aí resolvi deixar pra hoje. Infelizmente ainda estou sem isso, então vou aproveitar para fazer outra coisa antes da minha historinha. Acontece que eu tenho como projeto tentar mudar o código dessa coisa e conseguir substituir esse título escrito tosco por uma imagem que meu irmão fez. Aí eu vou o unir útil, a opinião de vocês, ao agradável, fazer vocês lerem e comentarem, e pedir que, caridosamente, dêem sua opinão sobre a imagem a seguir, se deve ser feito ou não e se ela tá boa ou tem que mudar "isso" ou "aquilo", certo? Brigado. ;) (Cliquem nela para aumenta-la)
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Finite

Jazia uma carcaça na calçada. Mais uma no meio daquela imensa megalópole. A Utopia do urbanismo se sintetiza nesse novo mundo onde a roupa comum é o terno e o calçado incomum é o chinelo. Saibam os sábios que o verde ainda sobrevive, agora em reservas. A polícia é organizada e o crime desorganizado. Tudo seria perfeito não estivesse faltando uma simples adição à essa equação. O livre-arbítrio. Em meio à perfeição, o mundo se tornou unânime e ao mesmo tempo burro. Crianças estudam pensadores de há mais de cinqüenta anos, que não podem mais influenciar seus ideais. Não existem mais escritores de renome na ficção. Os livros de auto-ajuda se tornaram essenciais nessa nova vida, mas não para fazerem seguir um novo rumo, mas entender como funciona o já tomado desde criança.

Você pode escolher só se prefere trabalhar com comunicação, técnico ou lecionando. E isso aos sete anos de idade. Porém, nem sempre foi assim. Há quase cem anos, quando tudo ainda era sujo e cruel, o crime era organizado e a polícia desorganizada, bem, nessa época de “caos”, alguns poucos tendiam a mudarem os eixos do mundo. Agora eles eram colados com Super-Bonder, e não é de 1,99. Vícios não mais em qualquer coisinha e sim nos remédios de “assimilação”, os antigos anti-depressivos. Viva do modo certo ou fique fora do caminho.

E em meio a essas crianças criadas em fábrica, há um idoso. Não vou mentir e dizer que ele seria um revolucionário ou um pensador, só que ele tem oitenta e sete anos e pelo menos alguma coisa do velho mundo ele conheceu. Amou, odiou, fez escolhas e se adaptou ao novo sistema mais rápido do que seria possível imaginar. No entanto, algo dentro de si dizia que ele não era feliz. Enquanto as pessoas eram preparadas para uma evolução, ele questionava-se se aquilo tudo funcionaria. Não, não era porque ele achava que as pessoas deviam ser mais livres. Pelo contrário, ele aprovava a idéia da educação fracionada e do condicionamento. Ele só não compreendia se isso era sim um passo a mais para a evolução.

Passava todos os dias em jardins ambientais climatizados para aposentados como ele, desfrutando desse privilégio concedido há quase quarenta anos. E via os animais concebidos para viverem ali, agindo por seus instintos. Ele sabia o que era aquilo. E sabia o que era sorrir. O condicionamento não lhe travava, lhe proibindo de algo, só não lhe dava as opções. Se quisesse, teria de descobrir por si mesmo. O velho, um dia, resolveu parar na beira do parque e observar os dois mundos em contraste. A ferragem, o vidro e a atividade plena e constante do mundo de lá. E a vida, o verde, o inconstante ânimo do mundo de cá. Comparou os dois e pela primeira vez, ele entendeu. Sabia qual era o caminho agora, que ao menos ELE deveria seguir. Mas deveria deixar sua mensagem. Talvez eles entendessem também.

Subiu em uma das empresas locais, cujos prédios alcançam mais de 20 andares. Lá em cima contemplou o mundo pela última vez. E se lançou.

A queda foi lenta e proveitosa. Não viu toda sua vida em câmera lenta, nem chegou a pensar nisso. Só pensou em abrir suas asas. E foi o que fez. Abriu os braços e planou, voou para longe. Deixou que a carcaça caísse nas ruas limpas e deixasse sua marca. Subiu aos céus azuis e pediu que pelo menos um par de olhos o visse, visse o resultado daquele sacrifício pessoal. E voou para longe.

Lá embaixo, a carcaça era examinada, um corpo vazio. A turma que se formou em volta não entendeu. Não eram acostumados mais a esse tipo de acontecimento. Nem perceberam que o velho não morrera. Não, ele estava vivo. Havia vencido seus medos e se tornado um anjo. Pois neste mundo limpo de pecados, os homens poderiam se tornar anjos. Era só eles não se tornarem máquinas.

quinta-feira, junho 01, 2006

Mais uma do Ton

Olá a todos, cá estou eu, novamente em ritmo de festa. Por quê? Porque voltei a escrever, meus caros! E com a corda toda. Adoro isso, voltar a ser eu mesmo, criando linhas e linhas de vidas infinitas. Aliás, quero deixar de lado os comentários do dia hoje para colocar aqui uma definição que fiz muito interessante para minha namorada em nossas conversas. Vejam se concordam...
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É esse o poder de um escritor...
Ser um semi-deus...
Eu não posso passar dos limites impostos pelo Deus em que acredito...
Ou seja, eu crio tanto quanto sei e consigo...
E dentro do que crio...
Tento passar uma mensagem a mim e talvez ao mundo...






Quer saber qual o poder do fotógrafo? Imagine que Deus fosse cego...
E não oni-presente... Qual seria a graça de um mundo feito de sons?
É preciso ousar...
Exemplificar...
Nomes não são nada se apenas nomes...

Eles precisam de corpos...
E pra isso vocês existem...
Vocês aprenderam a doar vida às palavras...
Traduzi-las em imagens perfeitas...

O poder do fotógrafo é criar uma cena...
Um mundo...
Em apenas um quadrado...

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Cronos

Eu sou Cronos. Como mortal, assumi há trinta anos o nome de Simão. Estou entre os homens há tantos séculos que eles nem mais podem se recordar de mim. Vi dinastias nascerem, alcançarem seu auge e sofrerem com a queda, por mais gloriosa que fosse. Ah, conversa, a maioria delas foi vergonhosa. Vejo-os de perto, pois sou o encarregado dos superiores para documentar seu caminho. Esta é a minha história.

Há mais ou menos cento e quinze anos conheci uma jovem. Uma bela jovem inglesa. Seu nome era Samantha Simms. Esquisito não? Eu também achei e por isso fui atraído. A princípio não compreendi o porquê de tanta atenção que voltava a ela. Com o passar dos dias, passei a considera-la importante e deixei de documentar outros fatos. Apenas ela, com seu sorriso sincero, era interessante. Ainda assim, sendo este terreno desconhecido para mim, me mantive longe. Infelizmente, ou talvez muito felizmente, a situação avariou meu sistema de furtividade e após um ou outro momento constrangedor ela veio até mim, rindo com aquela risada gostosa de menina-moça.

Nos apresentamos. Eu na época me denominava Alexander Street. Estado-unidense de vinte e dois anos. Indicação de outro amigo eterno. Ele e suas excentricidades. Acontece que Sam também se encantou por mim e embarcamos juntos em uma viagem pela Europa. Já a conhecia de cor, mas não deixei isso claro. Fiz questão de redescobri-la ao lado de Sam. Foi gostoso para falar a verdade. Aprendi sobre os homens mais naquelas semanas do que em todos os milênios ao seu lado. E olha que conheci até mesmo o filho de Deus e pude compartilhar de uma conversa agradável com ele. Naquela época ele me explicou o amor. Eu, obviamente, não entendi. Precisei experimentar para compreender sua imensidão.

Complexo é o coração mortal. Desvenda claramente os segredos de paixão e raiva. De amor e ódio. De importância e indiferença. No entanto, é um leigo quanto à falta. Quanto ao sentimento de saudades.

Sam já sabia, no seu âmago, no que resultaria. E por isso tentou me afastar. Inúmeras vezes. Porém, eu, logo eu um eterno, não quis. Sempre acabava atrás dela. A abraçava e beijava a ponta de sua orelha, o ponto cego dela, onde ela se derrete. Fiz tantas vezes que quase perdeu o efeito.

E vivi tantos anos ao seu lado. Como foi bom.

A princípio cometi o erro de não me deixar envelhecer. E Sam notou isso, com certeza, mas nunca comentou. Ela sabia que eu possuía segredos imortais que nunca poderiam ser revelados. Engraçado, ela me entendia muito mais do que eu mesmo. Quando chegou à casa dos cinqüenta, eu já havia moldado meu corpo e também aparentava ser velho. Assim, pude permanecer próximo sem que ela se sentisse desconfortável.

Morte, um dos meus irmãos imortais, caminha entre nós há milhões de anos. Ele é um caçador. Nós o chamamos de Mortimer e ele até que é gente fina. Só que não atrasa seu trabalho nem a pedido de um irmão. Enfim aconteceu. Mort, como eu o apelidei, teve de levar minha amada.

Compareci ao seu enterro me apresentando como um filho, já com aparência jovem. Foi minha maior mentira. Sam tinha perdido sua família toda antes de me conhecer. Eu, é claro, nunca tive família... A não ser Samantha. E, creio que por causa dos meus genes imortais, nós não conseguimos gerar uma única criança. E como tentamos.

Minha identidade que havia sido perpetuada por dois séculos morreu naquele dia. Desde então, vago documentando o mundo, já sem o ânimo de antes. Falta algo nele agora.

O amor é eterno. Eu, Cronos, o documentador também eterno, estou aqui para provar.