Entrando nos Eixos
Hoje, chegando a redação, recebo a bomba: Fui demitido. Interessante ver que assim estou porque apenas não quis fazer uma matéria. Uma entre tantas que fiz e que se tornaram a capa da edição do dia. Porém, meu hipócrita editor-chefe, que, aliás, não gostava muito de mim, não aceita que eu negue aquela matéria. Descobri o porquê ao falar com meu colega, que faria a reportagem comigo. O caso que eu investigaria envolvia um político, mui amigo de meu chefe. A fama gerada pela ocorrência acarretaria na provável eleição dele à vereador. Típica aliança subornativa. Triste saber que fui despedido por causa disso.
Gostaria de saber o que minha mãe pensaria. Logo ela que teve sua maior decepção ao me ouvir dizer com orgulho, em meus plenos 15 anos:
-Mamãe, vou ser jornalista!
Ela passou uma semana emburrada comigo por causa da minha ousadia. Ela talvez ficasse feliz ao saber que não mais sou jornalista contratado. Infelizmente, mamãe me deixou há quatro anos. Que no outro lado ela esteja rindo, por favor.
E papai. Papai me sustentou até eu conseguir esse emprego e desde então a situação se inverteu. Mas e agora? Que farei? Deixarei o pobre na miséria?
É, ser mandado embora causa muita confusão. Nem sei o que falar. Nada sou fora daquelas portas.
Enfim, achei que beber algumas entre amigos me traria um pouco mais de vida aos olhos. Que nada. Estava sozinho no bar, apenas acompanhado do barman que muito me servira nos quinze anos de freguesia. Ele até tentou me consolar. Inútil, meu caro. Inconsolável sou. Apenas saber que meu chefe levou no rabo poderia me trazer umas raras gargalhadas. Parcas mesmo. Nem isso me trará de volta a emoção de pular de uma van em meio à multidão, munido apenas de um gravador, para pescar algumas palavras de alguma celebridade. Verdade seja dita: O maior vício de um jornalista é a sua profissão.
Sou sincero. Amo mulheres e bebida, principalmente mulheres. No entanto, somente, veja bem, somente cobrir algum escândalo, descobrir alguma fraude, publicar a resenha de alguma grande obra, comentar algum jogo, só esses pequenos prazeres me trazem a emoção necessária para o dia a dia de escravidão trabalhista.
E aqui estou, saindo do bar, nem mesmo bêbado consegui ficar. Caminho com passos curtos, absorvendo as cores do calçadão esdrúxulo que construíram aqui, quando alguém, que conseguiu ficar mais bêbedo do que eu, atravessa minha frente. Ele e a tonelada de aço que ele dirigia.
De mim resta o chapéu, minha marca registrada. Na década e meia que fui jornalista, essa foi minha marca registrada. O chapéu de turista azul-escuro que sempre usava nas melhores histórias. Pena que agora não é mais meu...
Deixei de escrever manchetes para me tornar uma delas.
Que meu ex-chefe fique feliz. Mesmo em morte eu fui capaz de dar um furo para eles.
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Sonho de consumo. Se alguém quiser comprar, ou mandar fazer essas camisetas, eu vou ser bem feliz! ^^ Sério! =)
1 Comments:
Caramba... o.O
Nada mais a comentar sobre a história...
Pelo que vc me falou do DC, o negócio lá é grande mesmo... =)
Estou feliz que vc voltou a escrever... Isso é muito bom... ^^
Beijos...
PS: Nunca esqueça... EU TE AMO!!!
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