Volta ao Lar
Pois é, devo pedir desculpas ajoelhado no milho. Faltei ontem pois esqueci. Admito, esqueci. Mas tenho boas novas, hoje venho com texto quentinho, acabado de sair do forno. Em compensação, não haverá comentários do dia por falta de espaço. Fiquem então, com a história de uma Workholic.
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Dia 11 de Julho
É uma segunda-feira e eu estou de férias. Mas chove, minha lista de telefones está em branco e a vida que segue lá fora não me interessa. Em meu apartamento duplex, há tantas janelas que passaria dias limpando não fosse Rose. Infelizmente, eu a dispensei há dois dias para que ela também aproveitasse suas férias. Péssima idéia. Casa grande, pesadelo ambulante. Vejo-me nos vários espelhos todos os dias e o que vejo não me agrada, e pior, não me diz nada.
Engraçado como é nesses momentos que nos tornamos mais lúcidos. E por isso mesmo, achamos que estamos enlouquecendo. Agora escrevendo, dando meu primeiro passo, posso dizer com firmeza que não estou doida ainda, mas minha mente já está me pregando peças.
Já passava das nove e a pizza que pedi estava atrasada. Por azar, muito azar, é bem difícil chegar à minha rua, e o pizza-boy devia ter se perdido. Tomei um belo banho, com direito à banheira e espuma e me enrolei no meu roupão de seda. Vantagens do dinheiro, diria meus fúteis colegas. Eu digo recompensa merecida. Sou uma warkholic assumida, de primeira linha. Apesar de que esse poderio todo não me garante um mínimo convite para sair durante essas férias tediosas. Aceitei-as porque meu chefe me intimou. Férias agora ou férias pra sempre. Foi isso o que me meteu nessa enrascada.
Andei pelos corredores para ver se tudo estava no seu devido lugar. Também sou perfeccionista e tudo tem de estar em ordem dentro do meu enorme apartamento. Por isso mesmo Rose trabalha desde as oito da manhã até as oito da noite, de segunda a sábado. Desisti de ficar procurando erros nos ajustes e deitei no meu sofá. Uma tevê a cabo só é vantagem quando você sabe o que procura. Não é o meu caso. Nunca me prendi a nenhum programa de tevê. Decidi que precisava voltar a assinar a revista daquela operadora.
Estava passando pelos canais HBO quando aconteceu de piscar todas as luzes. Fiquei intrigada, já que era raro ficarmos sem energia naquele quarteirão. Depois de dois minutos olhando em volta resolvi voltar ao meu entretenimento. Estava chegando nos canais Pay-Per-View quando a luz piscou de novo, duas vezes, três, e então apagou.
Sentei-me e procurei pelos meus sapatos. Fui na direção do telefone contatar o síndico. Possuímos um gerador particular no prédio e ia pedir pra ele verificar se estava tudo OK. Ao passar pela janela é que notei que havia algo de estranho. Lá fora, a rua continuava iluminada. Para falar a verdade, parecia que só meu apartamento estava escuro. Muito estranho. Achei que pegar uma faca seria apropriado. Corri para a cozinha e vasculhei as gavetas. Acabei escolhendo uma enorme faca de cozinha, daquelas que os assassinos usam. Se um viesse, pelo menos acharia a arma na minha mão e não na dele.
Corri para o telefone, disposta a procurar auxílio quando visualizei o vulto na janela. Tomei um susto e o vulto sumiu. Pensei que era apenas a imaginação brincando comigo e ignorei. Chegando perto do telefone, tocou a campainha. Fui devagar até a porta, com a faca em punho. A campainha tocou mais duas vezes antes que eu chegasse nela e parecia que ia continuar. Encostei-me na porta e olhei pelo olho mágico perguntando “Quem é?”. Lá de fora uma voz respondeu “Pizza! Foi daqui que pediram não?”. Verifiquei e realmente havia um rapaz com uma pizza na mão. Olhei melhor e constatei que ele usava uniforme. Melhor, pelo menos eu posso pedir pra ele ficar e esperar a luz voltar. Larguei a faca na mesa ao lado e abri a porta.
- Pode entrar... – e apaguei.
...
Acordei e notei que estava no chão. Uma fome avassaladora rasgou meu estômago e procurei em volta. Ao ver a caixa da pizza me senti tentada a come-la. Abri a caixa e voraz tentei devorar tudo que podia. Só que devolvi tudo. Algo como nojo se instalou na minha boca e me senti seca. Não ia conseguir comer aquilo.
Achei que estava doente, não me lembrei de que havia acontecido. E então veio. Não um pensamento, mas muitos deles. Uma enchente. Inundou-me todas as salas disponíveis da mente e fez fila de espera. Senti-me fraca e inútil. Peguei um caderno e passei a escrever, sem parar. É nesse ponto que estou agora.
...
Dia 13 de Julho
Descobri que na verdade, haviam se passado dois dias. Acabei de olhar na tevê. Surpreendentemente, não estou mais sentindo nada de estranho. Os pensamentos me fizeram me sentir calma, e escrever saciou minha vontade enorme de trabalhar. No entanto, a fome persiste, me devorando como um vírus.
“Tenha calma, estou chegando” a voz de um homem me diz em minha mente. Ela me acalmar e me é estranhamente familiar. Ouço então batidas ocas na porta. “Entre” digo eu, certa de quem irá entrar, porém, ainda sem lembrar quem é.
Entra então o mais estranho homem que já vi. Ele usa um sobretudo escuro, azul ou cinza azulado, algo assim. Suas calças cargo me recordam de alguma coisa em especial a ver com dificuldade de tirar. Usa também uma camiseta simples, branca, regata. E suspensórios pretos, que seguram as calças. De reto, nada poderia ser mais normal para aquele homem do que os cabelos desgrenhados e os coturnos surrados. Ao me ver nesse estado ele sorri e diz com voz doce “Sei que está faminta. Trouxe seu primeiro jantar”.Só então noto que ele arrasta alguém atrás dele. Ao olhar com atenção, noto que é o pizza-boy, só que sem a jaqueta. Olhando de um para outro, percebo que o homem que arrasta o garoto é quem bateu na minha porta e algo fica claro. Dor, sede, fome, mudança. Tudo atravessa minha mente como uma flecha.
Ele tenta me acalmar, me abraça e me traz o garoto pra perto. Ao ver a beleza daquele jovem, tão puro e quieto, em seu último sono, não me contenho. Dilacero sua garganta com presas que não conhecia e bebo com sofreguidão que não me é particular. Só quando não resta mais nada ali me sinto satisfeita. Meu mestre está feliz agora e sorri com todos os dentes, mostrando seu afiado par de caninos.
“Agora, minha cara, vamos falar de negócios...” ele começa, se sentando no sofá em minha frente. Sim. Negócios. Há muito que fazer. Em minha nova condição, não devo ficar esperando muito. Seja no mundo dos mortais ou dos imortais, a balança não para de pender pra algum lado. E eu tenho muito que trabalhar.
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PS: Um bônus. Divulgado pela Fox, sete minutos do novo X-Men. Divirtam-se, garotos!
http://thelaststand.dell.com.edgesuite.net/sneakpeek/medium.html
2 Comments:
Nossa, boa historia, nao suspeitava, e axei estranho ela rejeitar a pizza huhu.
Bom, eu já sabia do que se tratava... Então não foi surpresa.
=S
Mas ficou legal, criou um clima interessante... =D Hehe
Beijos!!!
PS: Me atualizei com seu blog hoje!
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